SEMENTES PARA CRESCER

Práticas parentais de reforço à auto-estima da criança


A importância da discussão em torno do tema auto-estima torna-se extremamente relevante, no sentido em que o grau de investimento, por parte duma criança, em explorar e enfrentar os desafios desenvolvimentais, depende da confiança em si e nas suas capacidades.


Num momento em que o Bullying e o consumo de substâncias psicoativas são temas recorrentes, verifica-se que a criança/adolescente com uma boa auto-estima encontra-se mais preparada para se defender e fazer-se respeitar, não permitindo que os outros abusem de si ou a influenciem negativamente. Para dotarmos as nossas crianças dessas ferramentas, o papel dos pais e de outros adultos de referência assume um papel preponderante.


Auto-estima
No desenvolvimento da criança, na aquisição de competências e nas conquistas daí resultantes, importa indagar sobre a construção e desenvolvimento da auto-estima, bem como o papel dos adultos nesse processo.


A imagem que temos de nós, ou seja, o modo como nos percepcionamos (auto-conceito), é construída desde uma fase muito precoce da nossa vida, provavelmente desde a gravidez, e encontra-se, de modo indelével, ligada à relação com os pais e/ou outras figuras de referência da nossa vida.

Visto a capacidade da criança em realizar um julgamento eficaz de si e das suas capacidades ser reduzida, depende das pessoas que lhe são significativas, que funcionam como "espelhos", aos olhos de quem se percepciona. Deste modo, os pais são, geralmente, os principais "espelhos" da criança, e têm um papel crucial no modo como se avalia e confia nas suas capacidades.

E é com base nessa imagem devolvida pelos pais que a criança constrói a sua auto-imagem e realiza um julgamento sobre si, que pode ser mais ou menos positivo. A esse julgamento, ou a essa avaliação que realizamos sobre o nosso auto-conceito, denominamos de auto-estima.


Papel Parental

Importa então reflectir sobre o que lhes estamos a transmitir. Porque se, predominantemente, a criança receber “ecos” positivos, a sua auto-estima tenderá a ser alta. No sentido inverso, se recebe com maior frequência feedback negativo, tenderá a possuir uma imagem negativa de si própria.


Cabe então aos adultos a tarefa de valorizar o que de bom a criança realiza, as suas qualidades e, mesmo nas actividades em que possuí maiores dificuldades, transmitir-lhes a esperança de serem bem sucedidas.


O elogio enquanto arma positiva

O elogio serve como uma poderosa ferramenta ao serviço dos pais, no que se refere à auto-estima dos seus filhos. Atribuído quando tenta realizar algo (elogiar o esforço, não apenas os sucessos), faz com que se sinta importante, valorizada, e capaz de empreender novas tentativas e conquistas. Além de permitir que acredite que é capaz de realizar algo que o adulto valoriza e respeita, este sentimento de confiança de ser bem sucedida é interiorizado e preservado no futuro.


Assim, mesmo quando o sucesso não é alcançado, o elogio pela tentativa, associado à esperança que o adulto lhe transmite que da próxima vez poderá ser bem sucedida, permite-lhe acreditar em si e nas suas capacidades, o que a ajuda a lidar com as frustrações de forma mais eficaz.



O poder das palavras

Para além do elogio, com grande frequência os pais são levados a sinalizar comportamentos ou acções que não consideram os mais adequados. Por vezes desprovidas de grande reflexão, as palavras utilizadas assumem um valor fundamental na mensagem que queremos transmitir, e no que queremos que a criança percepcione.


Torna-se então perigoso recorrer aos típicos rótulos e etiquetas que por vezes atribuímos às crianças. Como anteriormente referido, elas procuram nos adultos significativos espelhos que lhes ajudem a moldar a sua imagem. Essa imagem convém ser positiva e, quando não o for, deve transmitir a possibilidade de mudança para melhor.


Os rótulos não transmitem essa possibilidade. Ao invés, contribuem para que se percepcione e comporte de acordo com os “títulos” que os adultos lhes devolvem. Se, desde uma fase precoce da sua vida, começa a identificar-se com designações como “burra”, “preguiçosa”, “pastelona”, entre outras, com maior probabilidade crescerá a acreditar que o é.


A nível educativo, verifica-se a necessidade de ajudar a criança a compreender os comportamentos que não são os desejados pelos adultos, e aí torna-se importante recorrer a um uso eficaz das palavras. Para tal, as verbalizações dos adultos devem incidir sobre os comportamentos incorrectos da criança (Ex. “Esqueceste-te de arrumar o quarto”). Uma correcta sinalização do comportamento indesejado, permite à criança interiorizá-lo e, ao adulto, demonstrar o comportamento desejado, bem como transmitir que acreditamos na possibilidade de mudança positiva no futuro.

O oposto verifica-se quando, ao invés de demonstrar o comportamento desejado, atribuímos traços de personalidade (Ex.: “és sempre um desarrumado” ao invés de “tens de arrumar o quarto”). Deste modo, ao invés de se contribuir para uma efectiva melhoria comportamental por parte da criança, estamos a fornecer uma avaliação da sua identidade, de carácter permanente.


Ideias Positivas:

É necessário a criança acreditar na possibilidade de sucesso, e para tal precisa ser bem sucedido na realização de tarefas. Para tal, os pais devem procurar transmitir essa possibilidade de sucesso. Importa assim atribuir-lhe pequenas tarefas, que sejam adequadas à sua faixa etária, para ter verdadeiras hipóteses de ser bem sucedida. Nesse sentido, damos-lhe oportunidades de desenvolver-se, sem incorrer no erro de protecção em excesso, nem de a pressionar além das suas limitações naturais.

- Todavia, não cabe ao adulto procurar evitar exaustivamente que a criança se depare com sentimentos de frustração. Mais do que tal, a sua tarefa passa pelo ensinar que não é possível ser sempre bem sucedido. Quando existe uma boa identificação parental, a criança cresce tendo os pais como modelos a seguir. Porém, pode ser difícil para uma criança acreditar que poderá ser um dia como aquele ser perfeito que o pai e/ou a mãe aparenta ser. É muito salutar que os adultos também admitam quando cometem erros, e que o façam junto da criança. Reconhece assim que os adultos não são perfeitos, tal como ela não o é. Deste modo, os adultos podem ajudar a criança a aprender que errar é natural, todos o fazem, não apenas ela, e que existe sempre a possibilidade de, na próxima vez, procurar melhorar.


- Quando possível, permita que a criança tome as suas próprias decisões. Pode-se, por exemplo, pedir que opine sobre questões como onde ir passear, que actividade realizar, entre outras. Tal faz com que se sinta importante, valorizada e respeitada.

- Ouvir a criança. Mesmo nos momentos em que está apressado/a, é importante parar para ouvir e valorizar o que a criança nos transmite. Por vezes não é possível dar atenção imediata às suas questões. Nesses momentos, é preferível explicar que será melhor falar sobre o assunto mais tarde. Quando possível, volte a abordar novamente a questão junto dela.


– Dar valor às questões colocadas pela criança. Elas fazem perguntas de enorme significado moral, resta-nos estar atentos e, em conjunto, procurar aprofundá-las - não com a postura de sabedores da verdade, mas ouvindo o seu ponto de vista, expondo os nossos, explorando e descobrindo em conjunto. É neste ouvir e partilhar de argumentos com outras crianças e adultos que ela experiencia desequilíbrios cognitivos, que a levam a colocar em causa os seus conceitos e conduzem a uma nova reorganização dos mesmos. Este conflito (cognitivo) é fundamental para a reestruturação do raciocínio e para o desenvolvimento mental.

- Permitir a livre expressão dos seus sentimentos, mesmo os negativos. Por vezes, desvalorizam-se sentimentos muito fortes da criança, com expressões como "não se chora", ou "isso não é nada". Se ela sente, é porque tem razões para tal. É importante validar esses sentimentos e permitir-lhe que os partilhe com os adultos.

- É frequente esquecermo-nos de que já fomos crianças, e de que a sua forma de entender e percepcionar o mundo é muito diferente da nossa. Procure empatizar com ela, e perceber como esta se sente em determinado momento. Deste modo, ser-lhe-á mais fácil entender o seu ponto de vista e, assim, lidar com ela.

- Tal como os adultos, a criança também aprecia (e merece) que respeitem os seus espaços e limites. Expressões como "com licença" e "obrigado" podem contribuir para que se sinta confiante e respeitada.

- Partilhar com os filhos os seus gostos e os seus valores.


- Enquanto modelo para as crianças, transmita e seja entusiasta, positivo e alegre.


- Por vezes, o cansaço fruto dum dia de trabalho pode favorecer momentos em que se "descarrega" na criança de forma descontextualizada e injusta. É necessário avaliar o nosso estado e, quando necessário, recorrer ao parceiro para que lide com determinadas situações, resguardando o adulto mais cansado (e a criança).


- Esta é uma verdade que deve ser aplicada para todas as crianças, mas que torna-se mais relevante quando se trata de irmãos: o recorrer às comparações para repreender ou fazer a criança ver qual o comportamento desejável não é uma boa estratégia pedagógica. Não é positivo para nenhuma delas, e há uma delas que fica
prejudicada com a situação. Em comportamentos negativos, o ideal será comparar com outros momentos positivos (Ex. “Não devias ter batido no teu irmão. Lembras-te no outro dia quando vieste contar aos pais que o mano te estava a chatear?”).


- Uma grande parte do dia da criança é vivenciado longe dos pais, na escola, no jardim-de-infância ou creche. No fim do dia, é relevante que os pais demonstrem interesse e curiosidade pelas actividades dos seus filhos. Com frequência a criança ou não responde ou é vaga, mas o que conta é o interesse demonstrado pelos pais, o que
a permite percepcionar-se como importante para eles.
Desafio: experimentar perguntar à criança pelas coisas boas do seu dia, o que mais gostou, o que valorizou. De seguida, expressar igualmente o que mais gostou no seu próprio dia.

- Diga à sua criança o que a faz única e especial. Todos nós o somos, mas poucas vezes alguém nos diz.


- Por fim, uma última referência para o elogio: elogie-a com frequência, mas quando e onde o merecer. Os elogios são uma óptima ferramenta para a construção da auto-estima, mas só quando atribuídos pelo mérito, e de forma coerente. Mais do que o resultado, reforce o esforço da criança para ser bem sucedida.

Termina-se com uma proposta: uma vez por dia (no mínimo), elogiar uma acção ou qualidade positiva da criança, com naturalidade e no momento em que ela realiza o comportamento alvo do elogio.